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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Nova Ordem - Capítulo 1

1 – Descoberta


Olhando meu próprio reflexo.
Encontrando um novo ser.
Vi minhas marcas e pensei no que elas significavam. Uma águia estendia-se desde o meu ventre, e suas asas quase alcançavam meus seios. Tribais angélicos nos braços mostravam a ordem e a linhagem a qual pertencia.
Toquei em cada linha. Era quente, mas suave.
E, para isso, eu precisei conhecer os prazeres da carne. O ato mais descriminado pelos humanos foi o mais sagrado dos anjos. Ele me trouxe a vida que eu não sabia que tinha o direito de ter.
— Encantada? – ele perguntou, abraçando-me por trás.
— Surpreendida. Não esperava por isso – respondi, enquanto levantava meu braço para alcançar seu rosto perfeito. – Sempre soube disso?
— Desde que descobri quem eu era.
— Hazanel? – inquiri, iniciando meu teste com o demônio.
— Confiando na sabedoria da Nova Ordem, ou seja, você.
— Meu pai?
— Acreditando. Ele sempre lutou para fazer de ti a melhor dos herdeiros.
— Persis, e agora?
— Agora veja suas asas, minha rainha.
Abri meus novos membros, tão pouco usados para sua real finalidade, tornando-se apenas um instrumento que eu usava para surpreender meus inimigos. Sempre depositei minha força nas minhas habilidades de luta, nunca no fato de ser uma criatura alada.
Olhei para os membros que eu lutava para esconder e eis que me maravilhei com o que descobri: penas prateadas, jamais vistas.
Diferentes.
Únicas.
Perfeitas.
Sorri.
Eram minhas!
Eu tinha asas, hora de aprender a voar.
— Prata! – exclamei, sorrindo.
— A sabedoria é como prata, saber usá-la é como ouro, Lienne – respondeu-me ele, retribuindo o mesmo sorriso.
— Por que as suas são negras?
— O sacrifício que enegrece a vida de quem o carrega. Meu destino é marcado pelo fim.
Virei e o encarei. Eu não aceitaria isso, não agora que tinha descoberto toda a verdade, não agora que meus planos eram outros.
— Podemos mudar isso, Persis – declarei convicta.
— Como, minha rainha? Profecias são apenas certezas que temos que aceitar.
— Não, porque eu não aceito isso. Matarei Liel e a profecia não se cumprirá.
— E comprará briga com o maior dos arcanjos? Apollyon não é o que parece.
— A força bruta não vence um bom raciocínio – rebati, gabando-me de um dom do qual jamais fizera uso por completo. Porém, se tratando do Rei das Trevas, não seria necessária uma mente dotada de inteligência. – E sabedoria é algo que ele não tem. Confie em mim, porque eu realmente morreria por você, Persis – menti.
Ele tomou meu rosto entre suas mãos e depositou um forte e inebriante ósculo em meus lábios. Perguntei-me como quase deixei essa felicidade escapar... Persis me pertencia, ele mudou os fatos, mudou minha história, iria se sacrificar por mim e por todos os outros.
— Agradeço sua dedicação, Lienne. No entanto, jamais permitiria tal ato - declarou, pousando um suave beijo em minha testa. – Eu morreria antes.
— Como ficam Adramalech e Kali? – perguntei, mudando o rumo da conversa.
— Eles são nephilins.
— Claro, precisam passar pelo teste – concluí, revirando os olhos.
— Fez um bom trabalho com Mikael e Sephora, sei que fará o mesmo com eles.
— Caleb fez um bom trabalho – corrigi –, eu só o representei.
— Que seja. Saberá como agir. Lembre-se que estarei ao seu lado sempre.
— Leve-me à minha casa, Persis – pedi. – Para que nossos planos deem certo, preciso continuar meu teatro com Apollyon.
— Não.
— Como disse? – inquiri, arqueando as sobrancelhas, sem acreditar que ele fosse mesmo capaz de me desafiar.
— Eu disse que não, Lienne. Não quero esse demônio asqueroso com suas mãos sujas no seu corpo. Você é minha agora, não permitirei tal afronta.
— Meu coração, meus pensamentos e até mesmo minha dedicação a essa luta é sua. Contudo, o corpo é meu e faço dele o que bem entender – retruquei com firmeza. – Sabe que essa é a única maneira de mantê-lo sob nossas rédeas. Portanto, deixe de ciúmes infundados e me leve para casa.
Suspirando derrotado, ele respondeu:
— Vista-se.
— Me diga como, pois meus trajes viraram trapos em suas mãos.
— Aproveitemos o momento – comentou com malícia, mostrando que seu brio falava mais alto. – Seja minha uma vez mais.
Um beijo intenso renovou a chama fraca, deixando meu corpo em brasa, pronta para me entregar novamente ao melhor prazer de todos, o sexo dos anjos.
As mãos de Persis percorrendo meu corpo me arrancavam suspiros eróticos.
Ele me jogou em sua cama, enquanto seus lábios desciam, marcando cada centímetro do que agora lhe pertencia. Éramos iguais, com as mesmas marcas. Amantes desenhados em perfeita sincronia.
Subitamente, fui possuída, permitindo sem frescuras que ele me tomasse, enquanto nossos olhos se fixavam em um fitar promissor.
“Divino prazer, por que fugi de ti por tanto tempo?” – inquiri mentalmente.
Meu sacrifício, meu amado, meu amante... Tudo nele era perfeito. Perdi-me na profundidade de seu olhar, azul como o céu, um olhar que me levava a viajar em sonhos exímios.
Nossas mãos, entrelaçadas; nossas bocas, abraçadas; nossos corpos, unidos. Um Paraíso vivido em atos sagrados, corrompido em deliberado pecado. Corpos como instrumentos, tocando a melodiosa canção do amor.
Meu pescoço virou o alvo de seus lábios. Com lambidas quentes, ele me fez gemer. Com um único sussurro, me fez arfar.
— Eu te amo, Lienne.
Agarrei forte em seus cabelos e trouxe sua boca de volta à minha. Mordi seus lábios, o apertei junto a mim, com um medo inexplicável de perdê-lo de repente.
Após alcançarmos o clímax do prazer, nossos corpos explodiram em busca de ar. Sua cabeça repousou em meu colo e eu o acariciei na face. Um demônio e seu anjo. Dois amantes invertendo as posições. Prendendo-me em um forte abraço, ele clamou:
— Nunca morra, anjinha. Seja minha para sempre.
Eu seria, enquanto o “para sempre” durasse. Porém, o sempre nunca nos daria o “para sempre”.

Anjos choram, e a Nova Ordem também conhecia as lágrimas, porque ambos choramos...
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