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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Apocalipse - Capítulo 1

1 - O Chamado

— AREL

Os quatro escolhidos estavam diante do trono de Deus. Os vinte e quatro anciãos o rodeavam, sem cessar seu canto de louvor. Os sete candelabros representavam as sete igrejas, e os espíritos dos quatro cavaleiros apocalípticos estavam em esferas de diamante.
— Eis que os herdeiros vivem – a voz do Rei ribombava naquela sala. O caminho até Ele era como um mar vítreo multicor. – Foram escolhidos como guardiões dessas criaturas. Caso venham a perecer, que essas vidas sejam novamente semeadas. Cabe a vós tal tarefa. Entrego a Ilke o espírito do sacrifício; para Daniel, o da coragem; para Rafael, o da fidelidade; e à Arel, o espírito da sabedoria da Nova Ordem do Criador.
As esferas de diamantes nos foram entregues. Eram tão mínimas quanto um grão de mostarda. Elas deveriam viver dentro de nós. Com as águas vivificantes que corriam direto do trono de Deus, engolimos tais sementes sagradas. Eram vidas dentro de vidas. Quatro arcanjos protegendo quatro cavaleiros. E essa era a nossa única missão, gerar a vida dos guerreiros escolhidos. Foi onde eu quase vacilei...
Apaixonei-me. E esse não foi meu pecado. Meu erro foi confundir meu coração, foi me enganar pela semelhança. Eu estava fissurado por uma herdeira da Nova Ordem, e fui tão cego em não enxergar tal fato que desviei meus caminhos...

*****

Estava apenas fazendo meu trabalho, cuidando das criaturas mais adoradas pelo meu Criador. Foi quando a vi. Uma criatura perfeita. Bastou apenas um olhar para desejá-la com todas as minhas forças. Cabelos como fogo, olhos de um verde puríssimo, pele alva... E o amor atingiu o meu coração.
Minha amada, minha querida...
Ela não era humana. Era a filha de um pecado, uma nephilin. A mais bela dessa espécie! A cópia perfeita de quem tanto amei.
Perguntei-me quem seria o genitor de tanta perfeição. Nem o céu foi capaz de abrigar tamanha beleza.
Aproximei-me dela, mas a criatura nem reparou na minha presença. Em meio aos amigos, ela sorriu. E o que eu não daria para que esse sorriso fosse meu? Daria minha vida por esse pecado.
A ansiedade foi tanta que cometi uma loucura. Caminhei em direção a ela e nos esbarramos propositadamente.
— Não olha por onde anda? – resmungou por entre os dentes.
— Desculpe-me, nephilin – respondi, apreciando a confusão em seus olhos.
— Como sabe disso? – perguntou, franzindo as sobrancelhas.
Não havia mais palavras em minha mente quando nossos olhares se cruzam. Milésimos de segundos neste mundo era como eternidade para os anjos. E aqueles olhos verdes, perfeitos e fascinantes, faziam-me tremer. Ela nunca me amaria, contudo, mesmo assim, eu morreria por essa criatura.
— Esquecerá este momento, nephilin – sibilei, sem deixar de fitá-la.
Eu ainda habitava a morada dos anjos, ainda provocava milagres. E esse foi o último. Fiz com que ela se esquecesse de tudo e voltei a caminhar como se nada tivesse acontecido...

*****

— É uma falta grave a que cometeu, arcanjo – alertou o Príncipe da Milícia Celeste, após escutar minha confissão.
— Não negarei meu erro, senhor.
— Arrependa-se, meu irmão, e teu lugar estará garantido aqui.
— Meu coração já foi tomado de amor por aquela criatura. Sinto muito, senhor – respondi.
— Uma pena, Arel. Entretanto, não posso permitir que continue a habitar nesta morada santa enquanto seu coração se rende pela filha de Caleb.
— Não há desculpas pelo meu erro. Aceito minha punição. Um dia nos encontraremos, irmão.
Despedimos-nos com um forte aperto de mão. Eu sentiria falta desse lugar, mas a visão que aquela nephilin me proporcionava era muito maior que qualquer outro prazer.
Havia um lugar onde ela estaria, um lugar que chamaria por ela um dia, um lugar que eu sempre visitava em busca dos antigos companheiros expulsos, a Cidade dos Nephilins. E foi para lá que rumei, sempre com a imagem daquela pequena em minha mente.
— Arel, meu amigo, é sempre bom te receber no nosso lar – falou Hazanel, assim que me encontrou.
— E o que diria se eu pedisse um espaço no reino dos excluídos? – inquiri.
Hazanel sorriu, entendendo o motivo de tudo. Então, respondeu:
— Mesmo sem ser esta a sua morada, você é o arcanjo que mais treinou nephilins aqui.
— A expulsão de vocês jamais seria empecilho para a nossa amizade, irmão Hazanel.
— E posso saber o nome dela? – ele perguntou, adivinhando o motivo da minha expulsão.
— Não sei o nome de minha amada, Hazanel, mas sei que é prole de nosso irmão Caleb.
— A filha de Caleb? – Hazanel indagou espantado. – Esse pecado é muito maior que o nosso, Arel. É proibido! Essas crianças não amam, são como seres sem alma.
— Nada farei para tê-la comigo, Hazanel. Mas não posso negar o que sinto. Por isso decidi me esconder aqui.
— Sempre será bem vindo nesta Cidade, arcanjo.
E a Cidade dos Nephilins se tornou meu novo lar, enquanto eu aquecia meu coração para acomodá-la carinhosamente, porque o amor me tomou de tal maneira que já era impossível não desejá-la.
Eu saía todas as noites só para ter o vislumbre de seu rosto. Torturei meu coração ao vê-la nos braços do filho de Ilke. Invejei aquele demônio que podia tocá-la, fitar seus olhos de perto.
A protegeria de tudo, morreria por ela. Porém, me manteria longe, respeitando as regras da vida. Tornei-me um masoquista desvairado, totalmente entorpecido por aquela nephilin.
A pequena prole de Caleb não era nenhuma santinha. Vivia aprontando um mundo de peripécias aos que estavam em seu redor. E o que eu tanto temia aconteceu. Ela cometeu seu erro, um fato iminente.
A nephilin fugiu pela noite. Mantive-me em seu encalço, enquanto ela desviava os caminhos, acreditando que um demônio a perseguia.
— Minha amada, já matei os demônios que te caçavam – sussurrei, observando-a do alto de um telhado.
Ela entrou na casa do meu maior inimigo, o filho de Ilke.
Aguardei, esperei ansioso para que ela saísse sozinha. E minha espera foi abençoada com meu pedido. Persis a dispensou.
Ela seguiu para outro destino, enquanto o filho das trevas a idolatrava.
— É chegada a hora, meu irmão. Minha filha corre perigo e te agradeço pelo que fez por ela – falou Caleb, surgindo ao meu lado.
— Mesmo sendo expulso, minha missão é proteger. Cuide de sua prole, pois retornarei agora para meu novo lar – respondi, escondendo a verdade daquele que poderia ser meu sogro.

Deixei-a aos cuidados do melhor e mais forte arcanjo, Caleb – seu pai. – E fui viver um sonho imaginário...
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  1. Oi, então, eu sou muito fã dessa série desde 2013, e quando eu fui terminar Nova Ordem no final do livro falava que a autora havia morrido, fiquei muito triste e desamparada, mas pelo que eu entendi você é a autora dessa série, fiquei super feliz quando vi que ela não tinha terminado, mas não encontro Apocalipse em lugar nenhum para ler, pode me dizer aonde encontro ou se já saiu?

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